DESEMPENHO
DE JUVENIS DE ROBALO-FLECHA E ROBALO-PEVA SUBMETIDOS
A DIFERENTES DENSIDADES DE ESTOCAGEM EM ÁGUA
DOCE*
Fernanda
LIEBL[1]; Hilton
AMARAL-JUNIOR[2];
Silvano GARCIA2; Luís Ivan Martinhão SOUTO[3]; Cristina Vaz Avelar de
CARVALHO1; Vinicius Ronzani CERQUEIRA1
O
objetivo deste trabalho foi comparar o desenvolvimento de peixes juvenis de
robalo-peva (Centropomus parallelus)
e robalo-flecha (Centropomus undecimalis)
criados em água doce em diferentes densidades de estocagem, com três réplicas,
durante 251 dias. Foram utilizados tanques-rede (1,0 x 1,0 x
Palavras chave: centropomídeos; crescimento;
tanques-rede; temperatura
PERFORMANCE OF COMMON SNOOK
AND FAT SNOOK JUVENILES AT DIFFERENT STOCKING DENSITIES IN FRESHWATER
ABSTRACT
The objective of this experiment was to compare
survival and growth of fat snook (Centropomus parallelus) and common snook
(Centropomus undecimalis), reared in
freshwater under different stocking densities. The experiment lasted 251 days.
The fish were randomly distributed in cages (
Keywords: centropomids; growth; net
cage; temperature
INTRODUÇÃO
Os
robalos pertencem à família Centropomidae, da ordem dos Perciformes; apresentam
distribuição tipicamente tropical e subtropical, exclusivamente no litoral do continente americano. No Brasil, as espécies maiscomuns
são robalo-flecha (Centropomus undecimalis) e robalo-peva (Centropomus parallelus), encontradas
desde o sul da Flórida (EUA) até o sul do Brasil. Estas
espécies são comumente confundidas por ocorrerem frequentemente em
companhia uma da outra. Porém, o robalo-peva difere do robalo-flecha por
apresentar corpo mais alto, menos escuro na parte dorsal, linha lateral menos
pigmentada e menor porte (FIGUEIREDO e MENEZES, 1980;RIVAS,
1986).
NoBrasil
o robalo é considerado um peixe nobre e de alto valor comercial; sua cotação no
mercado é a maior (R$ 23,00 kg-1 do peixe inteiro) dentre as 48
espécies apresentadas em pesquisa de preço pelo CEAGESP (2013), apresentando valores superiores ao do namorado e do badejo (ambos R$ 19,00 kg-1),
polvo (R$ 17,00 kg-1), camarão e
linguado (ambos R$ 15,00 kg-1).
Os
robalos são carnívoros e eurihalinos(RIVAS,
1986). Por suportarem largas faixas de variação de salinidade, C. paralleluse e C. undecimalis podem ser produzidas em diferentes ambientes: no
mar, em estuários, em viveiros de terra com água salobra ou água doce. Estudos
prévios comprovaram a versatilidade do robalo em adaptar-se a ambientes com
diferentes salinidades (ROCHA et al.,
2005; OSTINI et al., 2007) e também
em água doce (ZARZA-MEZA
et al., 2006). Considerando que a
piscicultura continental está bem desenvolvida no Brasil, surge a oportunidade
de intensificar testes para utilizar estas espécies em água doce. Alguns
estudos foram feitos em Santa Catarina (AMARAL-JUNIOR et al., 2009), porém, ainda é preciso conhecer sua tolerância
às variações de temperatura que ocorrem em regiões subtropicais ao longo do
ano, que certamente influenciam diretamente sobre o crescimento.
No
desenvolvimento de um pacote tecnológico para a produção de uma determinada
espécie de peixe, é importante identificar a densidade de estocagem adequada
para a região,
que visa definir
níveis ótimos de produtividade por área (BRANDÃO et al., 2004). Este fator é fundamental na criação de peixes, pois
afeta diretamente a taxa de sobrevivência, o crescimento, a uniformidade, a
conversão alimentar, o canibalismo e o comportamento dos animais. Estes fatores
são essenciais, não apenas para a redução dos custos de produção, mas também
para o sucesso nas fases de desenvolvimento e racionalização na criação (LUZ e
ZANIBONI-FILHO, 2002).
Além
disso, para satisfazer a demanda por produtos aquícolas, o
cultivo de peixes em tanques-rede tem apresentado diversificação no uso de
espécies e intensificação dos sistemas de produção. De acordo com BEVERIDGE
(1987), existem vários fatores que influenciam a capacidade de suporte, o
desempenho e a sobrevivência dos peixes em tanques-rede, sendo que a escolha da
espécie, a qualidade da água, as dimensões dos tanques-rede, a alimentação e a
densidade de estocagem são os principais fatores que afetam o sucesso da
criação de peixes neste sistema.
No Brasil, experimentos com
resultados promissores foram realizados no mar para avaliar o crescimento de C. parallelus criados em diferentes
densidades de estocagem. Utilizando juvenis selvagens de robalo-flecha nas
densidades de 3, 6 e 9 peixes m-³, durante 30 dias em caixas d’água
circulares de fibra com água do mar, SOUZA-FILHO e CERQUEIRA (2003) observaram
que as médias finais de peso na menor densidade foram superiores às demais. OSTINI
et al., (2007), após 160 dias de
experimento com robalo-peva em tanque-rede, concluíram que o peso na densidade
de 25,0 peixes m-³ foi maior que na de 40 peixes m-³e as
densidades avaliadas não influenciaram na sobrevivência. AMARAL-JUNIORet al., (2009), ao
testarem as densidades 37,5 e 75,0 peixes m-³ de
robalo-peva, em água doce, observaram, na maior densidade, que os peixes
obtiveram maior incremento de peso (
É
importante definir uma metodologia de cultivo ótima para a fase da pré-engorda
de robalos, pois é nessa fase que os indivíduos se tornam mais resistentes. A
partir dessas premissas, foram objetivos deste experimento avaliar o efeito de
três diferentes densidades de estocagem sobre o desenvolvimento e a
sobrevivência de juvenis de C. paralleluse
de C. undecimalis, cultivados em
tanques-rede, mantidos em água doce.
MATERIAL E
MÉTODOS
O
experimento foi conduzido no Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú
(CEPC/EPAGRI), entre os meses de abril e dezembro de 2011. Foram utilizados
juvenis de robalo-peva (C. parallelus,n
= 225) e robalo-flecha (C. undecimalis,n
= 225). Os juvenis de robalo-peva foram produzidos no Laboratório de
Piscicultura Marinha da Universidade Federal de Santa Catarina, segundo
técnicas descritas previamente (CERQUEIRA, 2002); e os de robalo-flecha, no
Laboratório Estaleirinho (CARVALHO-FILHO, 2009). Os peixes foram aclimatados em
tanques de concreto circulares, com
Após
um mês C. parallelus apresentaram
peso médio (±desvio
padrão) de 22,3 ±
Os
peixes foram alimentados diariamente com ração experimental extrusada
(Nicoluzzi Rações Ltda®) para peixes marinhos, com granulometria de
Amostragens,
para coleta de dados biométricos, de todos os peixes foram realizadas nos meses
de abril, junho, setembro, novembro e dezembro. Durante as biometrias foi
realizada a limpeza dos tanques-rede para melhorar a circulação de água. Todo
o manejo com os peixes seguiu a metodologia aprovada pelo Comitê de Ética para
Uso de Animais da UFSC (Protocolo CEUA/ProPesq/2010 n° PP00490).
Os parâmetros
físico-químicos da água do viveiro foram monitorados diariamente, no período
matutino (08:30 h): oxigênio dissolvido, pH e a temperatura, com o auxílio de
aparelho eletrônico (multiparâmetro YSI 556®).Mensalmente,
foram verificadas as concentrações de amônia total (NH3-)e
nitrito (NO2-), por teste colorimétrico (equipamento HACH
DR/890®), e alcalinidade e dureza por titulação (Kit de análise de
água ALFAKIT®). Para evitar baixas concentrações de oxigênio
dissolvido na água, foi utilizado um aerador de hélice instalado no centro do
viveiro em que os tanques-rede foram devidamente dispostos, ligado durante
todas as noites (23:00 h até 8:00 h) e nos dias nublados.
A partir dos
dados coletados foram calculados os parâmetros:
- Taxa de Sobrevivência (S;
%) = Nf/Ni x 100(%),onde Nf: representa o número de peixes
sobreviventes durante o tempo de cultivo e Ni
o número inicial de peixes do experimento;
- Ganho de peso (GP; g) = média do Pf – média do Pi, ondePf representa o peso final e Pi o peso inicial dos peixes;
- Taxa de Crescimento
Específico, expressa em porcentagem por dia = (TCE, %/dia - 1) = 100 x (lnPf – lnPi)/t; onde ln é
logaritmo natural, Pf e Pi são peso final e inicial (g), respectivamente, e t
indica o tempo (dias);
- Biomassa final (Bf; g m-3)
= peso total dos animais presentes em cada tanque-rede ao final do
experimento;
- Fator de Condição (FC) = (Peso corporal/ Comprimento Total)³ x 105.
Para a análise dos dados foi utilizado o
programa Statistic®, versão 7. Os dados foram avaliados quanto à
normalidade (teste Shapiro Wilk) e homocedasticidade (teste de Levene) e,
posteriormente, foram submetidos à análise de variância bi-fatorial. Os
tratamentos que apresentaram diferença significativa tiveram suas médias
comparadas pelo teste de Tukey, considerando nível de significância de 5% (P<0,05).
RESULTADOS
Qualidade da água
Os valores médios dos parâmetros da água
monitorados ao longo do cultivo estão apresentados na Tabela 1.
Os meses que compreenderam
as estações de outono (abril, maio e junho), inverno (julho, agosto e setembro)
e primavera (outubro, novembro e dezembro) apresentaram as seguintes médias
(±desvio padrão) de temperaturas: 23,8 ±
Tabela 1.Valores
médios ± desvio padrão (DP), mínimos e máximos dos parâmetros físico-químicos
da qualidade da água (temperatura, oxigênio dissolvido, pH, amônia, nitrito,
alcalinidade e dureza) do viveiro de cultivo dos robalos.
Parâmetros |
Média ± DP |
Mínimo |
Máximo |
Temperatura (°C) |
19,8
± 3,29 |
12,80 |
25,60 |
Oxigênio Dissolvido (mg/L) |
7,89
± 0,42 |
6,40 |
10,60 |
pH |
8,04
± 0,73 |
6,68 |
8,70 |
Amônia (mg/L) |
0,26
± 0,14 |
0,00 |
0,60 |
Nitrito (mg/L) |
0,114
± 0,08 |
0,05 |
0,22 |
Alcalinidade (mg/L CaCO3)
|
88,8
± 22,34 |
64,00 |
120,00 |
Dureza (mg/L CaCO3)
|
92,6
± 13,52 |
76,00 |
105,00 |
Desempenho Zootécnico
No início do
experimento, não foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) no peso e comprimento dos
peixes entre os tratamentos. Na Tabela 2 estão apresentados os dados de peso,
crescimento e fator de condição dos juvenis de robalo-peva e robalo-flecha,
estocados em tanques-rede nas densidades de 12,5, 25,0 e 37,5 peixes m-3após
251 dias.
Na Tabela 3 estão apresentados os dados de
ganho de peso, taxa de crescimento específico, sobrevivência e biomassa final
dos juvenis de robalo-peva e robalo-flecha, estocados em tanques-rede nas
densidades de 12,5, 25,0 e 37,5 peixes m-³. A única variável que
apresentou interação entre os fatores foi o peso final (g) (Tabela 2). A
densidade de 25,0 peixes m-³ de C.
undecimalis resultou em maior peso (P<0,05) em relação às maiores
densidades de C. parallelus.
Para comprimento final, fator de condição e
sobrevivência houve efeito apenas da espécie. O comprimento final dos juvenis
de robalo-flecha foi significativamente maior (P<0,05) em relação aos
juvenis de robalo-peva (Tabela 2); o inverso ocorreu com as variáveis, fator de
condição (Tabela 2) e sobrevivência (Tabela 3), nas quais robalo-peva obteve
maiores taxas. Durante o experimento, não foram observadas evidências de
canibalismo ou doenças nos animais.
Tabela 2.
Valores médios (± desvio padrão) de peso, comprimento e fator de condição (FC)
de juvenis de robalo-peva (Centropomus
parallelus) e robalo-flecha (C.
undecimalis) ao final de 251 dias de experimento em água doce nas três
densidades de estocagem (12,5; 25,0 e 37,5 peixes m-3).
Tratamentos |
Peso (g) |
Comprimento |
FC |
(cm) |
|||
Espécie x densidade (N=3) |
(*) |
(ns) |
(ns) |
Peva: 12,5 |
42,4 ± 16,8ab |
16,6 ± 2,2 |
8,9 ± 1,4 |
Peva: 25,0 |
34,5 ± 15,3b |
15,6 ± 2,4 |
8,6 ± 1,5 |
Peva: 37,5 |
39,1 ± 18,7b |
16,0 ± 2,6 |
8,9 ± 1,0 |
Flecha: 12,5 |
46,2 ± 18,3ab |
18,4 ± 3,1 |
7,1 ± 0,8 |
Flecha: 25,0 |
52,8 ± 22,6a |
19,1 ± 3,4 |
7,3 ± 1,5 |
Flecha: 37,5 |
46,4 ± 18,8ab |
18,2 ± 2,7 |
7,5 ± 1,2 |
Espécie (N=9) |
(ns) |
(*) |
(*) |
Peva |
38,6 ± 16,9 |
16,1 ± 2,4a |
8,8 ± 1,3a |
Flecha |
48,5 ± 19,9 |
18,6 ± 3,1b |
7,3 ± 1,2b |
Densidade (N=6) |
(ns) |
(ns) |
(ns) |
12,5 |
44,3 ± 17,6 |
17,5 ± 2,7 |
8,0 ± 1,1 |
25,0 |
43,7 ± 19,0 |
17,3 ± 2,9 |
8,0 ± 1,5 |
37,5 |
42,8 ± 18,8 |
17,1 ± 2,7 |
8,2 ± 1,1 |
(*): efeito significativo
(P<0,05); (ns): efeito não significativo (P≥0,05). Valores médios numa
mesma coluna com letras diferentes em expoente indicam diferença
estatisticamente significativa (P<0,05).
Tabela 3.
Valores médios (± desvio padrão) de ganho de peso (GP), taxa de crescimento
específico (TCE), sobrevivência e biomassa de juvenis de robalo-peva (Centropomus parallelus) e robalo-flecha
(C. undecimalis) mantidos em água
doce por 251 dias nas três densidades de estocagem (12,5; 25,0 e 37,5 peixes m-3).
Tratamentos |
GP
(g) |
TCE
(%) dia-1 |
Sobrevivência |
Biomassa |
(%) |
(g) |
|||
Espécie
x densidade (N=3) |
(ns) |
(ns) |
(ns) |
(ns) |
Peva:
12,5 |
18,6
± 5,2 |
0,23
± 0,03 |
90,0
± 10 |
477
± 75 |
Peva:
25,0 |
14,9
± 2,7 |
0,21
± 0,05 |
93,3
± 2,9 |
805
± 22 |
Peva:
37,5 |
15,2
± 5,8 |
0,19
± 0,03 |
86,6
± 4,7 |
1271
± 509 |
Flecha:
12,5 |
19,3
± 3,7 |
0,24
± 0,08 |
73,3
± 23,1 |
442
± 185 |
Flecha:
25,0 |
25,8
± 5,7 |
0,30
± 0,15 |
66,7
± 2,9 |
881
± 178 |
Flecha:
37,5 |
20,0
± 9,4 |
0,23
± 0,10 |
58,9
± 3,8 |
1044
± 78 |
Espécie
(N=9) |
(ns) |
(ns) |
(*) |
(ns) |
Peva |
16,2
± 4,6 |
0,21
± 0,04 |
90,0
± 5,9a |
851
± 202 |
Flecha |
21,7
± 6,3 |
0,26
± 0,11 |
66,3
± 9,4b |
789
± 128 |
Densidade
(N=6) |
(ns) |
(ns) |
(ns) |
(*) |
12,5 |
18,9
± 4,4 |
0,24
± 0,06 |
81,7
± 16,5 |
459
± 74a |
25,0 |
20,4
± 4,2 |
0,26
± 0,10 |
80,0
± 2,9 |
842
± 100a |
37,5 |
17,6
± 7,6 |
0,21
± 0,07 |
72,8
± 4,3 |
1157
± 293b |
(*): efeito
significativo (P<0,05); (ns): efeito não significativo (P≥0,05). Valores
médios numa mesma coluna com letras diferentes em expoente indicam diferença
estatisticamente significativa (P<0,05).
A biomassa final apresentou efeito da densidade de cultivo na qual a de
37,5 peixes m-3 apresentou diferença significativa (P<0,05), com valor médio superior às
densidades 12,5 e 25,0 peixes m-³ (Tabela 3).
Assim como o ganho de peso, a taxa de
crescimento específico também não apresentou interação entre os fatores ao
final do cultivo (Tabela 2).
Nas Figuras 1 e 2, estão representadas as taxas de crescimento
específico intermediárias, relacionadas com a temperatura da água, para
robalo-peva e robalo-flecha, respectivamente. Entre as densidades testadas, em
cada intervalo de tempo, para ambas as espécies, não foi verificada diferença
significativa (P>0,05).Esta variável,ao
longo do cultivo, foi inicialmente elevada (outono); em seguida, nos meses onde
as taxas de temperatura foram inferiores (inverno), ocorreu redução e voltou a
aumentar com a elevação da temperatura no decorrer dos demais meses
(primavera).
Figura 1. Variação da temperatura e da taxa de crescimento
específico de robalo-peva (Centropomus
parallelus) entre biometrias intermediárias nas densidades 12,5, 25,0 e
37,5 peixes m-³.
As Figuras 3 e 4
representam a relação entre a temperatura da água e a sobrevivência ao longo
dos meses de cultivo nas densidades 12,5, 25,0 e 37,5 peixes m-3para
robalo-peva e robalo-flecha, respectivamente.
Robalo-peva
apresentou altas taxas de sobrevivência ao longo do cultivo nas três densidades
(Figura 3). Já robalo-flecha (Figura 4) apresentou taxas consideradas boas para
a espécie, porém inferiores as de robalo-peva. A Figura 4 evidência mortalidade
constante no decorrer dos meses de cultivo para juvenis de robalo-flecha, nas
três densidades.
Figura 2. Variação da temperatura e da taxa de crescimento
específico de Centropomus undecimalisentre
biometrias intermediárias nas densidades 12,5, 25,0 e 37,5 peixes m-³.
Figura 3. Variação da temperatura e da taxa de sobrevivência
de robalo-peva (Centropomus parallelus)
ao longo dos meses de cultivo nas densidades 12,5, 25,0 e 37,5 peixes m-³.
Figura 4. Variação da temperatura
e da taxa de sobrevivência de robalo-flecha (Centropomus undecimalis) ao longo dos meses de cultivo nas
densidades 12,5, 25,0 e 37,5 peixes m-³.
DISCUSSÃO
Qualidade da água
A temperatura da água do
viveiro apresentou comportamento típico de clima subtropical, com declínio nos
meses de inverno e incremento gradual a seguir. A faixa ótima da temperatura
para os robalos situa-se entre
Os teores de oxigênio
mantiveram-se adequados à espécie ao longo do cultivo. Os dados médios dos
parâmetros de qualidade da
água: pH, alcalinidade e dureza, monitorados
estiveram dentro dos limites considerados adequados para a criação de peixes
(BOYD e TUCKER, 1998). A dureza e a alcalinidade tiveram a mesma tendência ao
longo do cultivo, uma vez que a alcalinidade apresentou valores
superiores a 60 mg L-1e o pH manteve-se basicamente constante.
Em experimento de cultivo
intensivo com juvenis de C. parallelusfoi
observado que os peixes resistiram ao valor amoniacal total de 1,5 mg L-1(CORRÊA
e CERQUEIRA, 2007). Em experimento de adaptação de juvenis selvagens de
robalo-flecha ao cativeiro (GONÇALVES-JUNIOR et al., 2007), a concentração da amônia total variou entre 0,5 e
1,0 mg L-1, sem influência no crescimento e sobrevivência. Ambos os
experimentos apresentaram valores superiores aos observados no
presente estudo. Concentrações
de nitrito acima de 0,3 mg L-1 são consideradas prejudiciais ao
desempenho dos peixes (VINATEA, 2004). No presente estudo, os valores foram
inferiores ao citado, portanto, aparentemente não influenciou no
desenvolvimento dos peixes.
Desempenho Zootécnico
Ao
final do cultivo pode-se observar que nas três densidades avaliadas as duas
espécies de robalo se desenvolveram. Com isso, as densidades não ultrapassaram
a capacidade máxima tolerada para estas espécies nas condições do presente
experimento.
Em ambientes naturais, verifica-se que o robalo-flecha atinge maior
crescimento em relação ao robalo-peva (CERQUEIRA, 1995). ZARZA-MEZA et al., (2006) obtiveram o mesmo
resultado em cultivo experimental com estas espécies em tanques de terra com
água doce no México. No corrente experimento, este fato foi observado apenas
para a densidade de 25,0 peixes m-³ de robalo-flecha em relação às
densidades 25,0 e 37,5 peixes m-³ de robalo-peva.
Não
ocorreram diferenças estatísticas no peso final entre as densidades para uma mesma
espécie; este fato também foi verificado por outros autores na criação deC. parallelus (CORRÊA e CERQUEIRA, 2007)
em água do mar no período de 30 dias nas densidades de 1,5; 3,0 e 6,0 peixes L-1,
e em água salobra, durante 59 dias nas densidades de 50, 100 e 200 peixes m-³
(TSUZUKI et al., 2008).
OSTINIet al., (2007), ao testar densidades de
20 e 40 peixes m-³, verificaram que a menor densidade apresentou
maior peso final. Convém ressaltar que este experimento foi realizado em água
do mar, o que pode ter levado à diferença. SOUZA-FILHO e CERQUEIRA (2003)
verificaram o mesmo com robalo-flecha, durante 30 dias, em que o peso final
obtido na densidade de 3 peixes m-³ foi superior as ao
verificado nas densidades de 6 e 9 peixes m-³, sendo que estas não
ultrapassaram a menor densidade avaliada no presente estudo.
Por
sua vez, AMARAL-JUNIOR et
al,. (2009) observaram que no tratamento com maior
densidade (37,5 e 75,0 peixes m-³), os peixes apresentaram maior
peso final (
O
fator de condição (FC; relação peso e comprimento) é utilizado como indicador
do bem estar de uma espécie no ambiente, além de ser utilizado para avaliar as
diferentes condições de alimentação, de densidade, clima, entre outras
condições ambientais. Os resultados obtidos para esta variável provavelmente
estão relacionados às características de cada espécie, em que C. parallelus possui maior altura do
corpo (FIGUEIREDO e MENEZES, 1980) e robalo-flecha apresenta maior comprimento
(PATRONA, 1984). Este fato condiz com o resultado observado no comprimento
final, em que o robalo-flecha atingiu maior valor em relação ao robalo-peva.
A
biomassa final é fundamental para determinar a capacidade suporte do ambiente,
porém nem sempre a densidade biológica ótima será a mais viável economicamente.
A relação direta entre a biomassa e as densidades testadas também foi
verificada por diversos autores com robalo-peva (TSUZUKI et al., 2008); (OSTINI et al.,
2007), (CORRÊA e CERQUEIRA, 2007) e robalo-flecha (SOUZA-FILHO e CERQUEIRA,
2003).
Devido à variação na
sobrevivência entre as espécies, ficou notória que o robalo-peva apresentou
maior adaptação ao ambiente de água doce com baixas temperaturas.ZARZA-MEZA
et al., (2006) registraram
sobrevivência de 90% nas duas espécies de robalo em água doce após um ano de
cultivo. Portanto, o robalo-flecha pode ser mais sensível às baixas
temperaturas em água doce que o robalo-peva, uma vez que, no experimento
citado, a temperatura da água se manteve entre
A
taxa de crescimento específico (TCE) é um parâmetro que está associado a vários
fatores, entre os quais, a variação ontogenética ou, até mesmo, a adaptação ao
ambiente de cultivo, podendo apresentar resultados diferentes para indivíduos
de uma mesma espécie. GUARIZI (2010) também não encontrou diferença
significativa na taxa de crescimento específico nas diferentes densidades
testadas para robalo-peva. OSTINI et
al., (2007),
trabalhando com esta mesma espécie,e SOUZA-FILHO e
CERQUEIRA (2003),
GONÇALVES-JUNIOR et al., (2007), com
robalo-flecha, obtiveram valores superiores de TCE aos encontrados neste
trabalho. Esse resultado pode ter ocorrido devido à temperatura da água não ser
a ideal durante todo o cultivo para proporcionar maior crescimento nos robalos.
As quedas de temperatura da
água certamente influenciaram no desenvolvimento tanto do robalo-peva quanto do
robalo-flecha. Este fato também foi verificado por FERRAZ et al., (2011), que observaram baixo
crescimento (peso e comprimento) de robalo-peva em condições de baixa
temperatura (
As
espécies permaneceram nos tanques-rede durante períodos críticos de temperatura
ao longo do ano, demonstrando que há possibilidade de se realizar estocagem de
juvenis de robalo durante o inverno, para posterior povoamento e engorda no
verão, com melhores taxas de crescimento.
Os juvenis de
robalo se adaptaram a água doce, o que confirma os experimentos já realizados. Além
disso, as espécies se adaptaram às condições de cultivo comuns a outros tipos
de peixe, o que gera grandes possibilidades para a piscicultura continental
desta espécie.
CONCLUSÕES
Ambas
as espécies se desenvolveram, mas sem uma vantagem nítida do robalo-flecha,
como seria esperado.
As
densidades de cultivo não influenciaram na taxa de crescimento especifico de C. paralleluseC. undecimalis.
A
temperatura da água no inverno em Santa Catarina interfere consideravelmente no
crescimento dos robalos.
Robalo-peva apresenta maior
taxa de sobrevivência em água doce se comparado ao robalo-flecha, em baixas
temperaturas.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pela
bolsa de estudos concedida à primeira autora. Aos colegas do Laboratório de
Piscicultura Marinha (LAPMAR/UFSC) e do Campo Experimental de Piscicultura de
Camboriú (EPAGRI). À empresa Nicoluzzi Rações LTDA, pelo fornecimento das
dietas utilizadas neste trabalho; à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão
Rural de Santa Catarina (EPAGRI), por ceder às instalações do cultivo.
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Artigo Científico: Recebido em 14/08/2014 –
Aprovado em xx/xx/2015
[1][1]Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ademar Gonzaga, 1346, Itacorubi, – CEP: 88034-400 – Florianópolis – SC – Brasil. e-mail: fernandaliebl@gmail.com
[2][2]Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú/EPAGRI.– Camboriú – SC – Brasil.
[3][3]Instituto Federal Catarinense (IFC),
Campus Camboriú. Camboriú – SC – Brasil. e-mail:
lims_br@yahoo.com.br
*Apoio Financeiro: Edital MCT/CNPq/CT-AGRO/MPA nº 36/2009 (processos: nº 559777/2009-4 e nº 559790/2009-0).